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quinta-feira, 18 de março de 2010

Mandalas


Original por Cathy Malchiodi, disponível em http://www.psychologytoday.com/blog/the-healing-arts/201003/cool-art-therapy-intervention-6-mandala-drawing
Tradução: Maria Angelica Rente Basso


Nós, humanos, sempre tivemos fascinação pelo círculo. Temos contato com ele através da natureza – na espiral da Via Láctea, nas órbitas dos planetas, e nos ciclos da vida em si. Quando crianças, descobrimos que poderíamos usar lápis de cor pra fazer formas circulares no papel; é um estágio universal do desenvolvimento artístico que toda criança normal no mundo vivencia. De fato, é o primeiro grande marco na produção de imagens e, por isso, o desenho infantil de um círculo pode ser uma das mais primitivas representações do self.
Costumamos nos referir às formas circulares como mandalas, palavra em sânscrito que significa “círculo sagrado”. Por milhares de anos a criação de desenhos circulares, frequentemente geométricos, tem feito parte de práticas espirituais ao redor do mundo e quase todas as culturas reverenciaram o poder do círculo. As culturas orientais utilizam mandalas específicas para meditação há muitos séculos; a mandala budista tibetana Kalachakra, também conhecida como Roda do Tempo, é provavelmente uma das mais famosas, e ilustra simbolicamente a estrutura inteira do universo. Formas circulares também são encontradas no monumento pré-histórico de Stonehenge , na Inglaterra, e no labirinto de século 13 que se encontra no chão da Catedral de Chartres, na França. Pessoas no caminho da espiritualidade sempre criaram mandalas para entrar em contato com o sagrado através de imagens, e evocaram o círculo em rituais e na produção de arte com o propósito de transcendência, completude e bem estar.
Carl Gustav Jung introduziu o conceito das mandalas na cultura ocidental, e acreditava que esse símbolo representa a personalidade total, ou seja, o Self. Jung observou a criação espontânea de mandalas em seus pacientes e em sua própria experiência pessoal, e notou que a aparição súbita destas figuras em sonhos ou em forma de arte normalmente era um sinal de movimento em direção a um maior auto-conhecimento. De 1916 até 1920 Jung criou desenhos e pinturas de mandalas que sentia corresponderem à sua situação interior no momento da criação delas. Ele acreditava que as mandalas denotavam uma unificação dos opostos, serviam como expressão do self e representavam a somatória de quem nós somos.
A arteterapeuta Joan Kellogg passou grande parte de sua vida desenvolvendo um sistema de compreensão da sabedoria da mandala, que ela denominava de “Grande Círculo”. Em sua teoria sobre padrões, forma e cores em mandalas, Kellogg integrou parte das descobertas de Jung e sua própria pesquisa, que durou várias décadas. Em particular, ela afirmava que nossa atração por certas formas e configurações encontradas em mandalas dá indícios de nossas condições físicas, emocionais e espirituais em determinado momento. Kellogg também desenvolveu uma série de cartões, cada um com um desenho de mandala diferente, representando traços de caráter, relacionamento interpessoal, aspirações e o inconsciente, sempre mutáveis dentro do círculo da vida representado pela Grande Roda da Mandala.
Os conceitos de Kellogg deram origem a um sistema inteiro para análise de mandalas, com a finalidade de avaliar tudo, desde a personalidade de um indivíduo até sua saúde física Como psicóloga pesquisadora, não posso afirmar que existe pesquisa o suficiente para fundamentar a interpretação através do uso desta fórmula. A idéia de interpretar símbolos encontrados em mandalas intriga muitos arteterapeutas e analistas junguianos, que enxergam significados nas imagens. Mas, para mim, o poder evocativo e promotor de saúde da mandala significa muito mais do que apenas procurar símbolos. É, na verdade, o processo criativo de confecção de mandalas que nos auxilia a revisitar a experiência universal do círculo e, como Jung descobriu, nos auxilia a vivenciar e refletir sobre a essência do que somos no aqui e agora.
De acordo com Jung, as mandalas simbolizam “um refúgio seguro de reconciliação e inteireza interiores”. Elas têm o potencial de trazer à tona algo universal dentro de nós, talvez o proverbial arquétipo do Self. E, ao mesmo tempo, nos oferecem uma experiência do todo em meio ao caos da vida diária, tornando o “círculo sagrado” uma das intervenções arteterapêuticas mais válidas tanto para o conforto da alma quanto para o encontro com si mesmo.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Como os Ambientes e a Arquitetura Afetam o Humor e a Criatividade

Publicado originalmente por Ouno Design (disponível em: http://blog.ounodesign.com/2009/05/02/how-rooms-and-architecture-affect-mood-and-creativity/)
Tradução: Maria Angelica Rente Basso

Jonas Salk declarou que foi só quando ele saiu de seu laboratório no porão nos Estados Unidos e foi clarear as idéias em um monastério em Assis que conseguiu resolver o quebra-cabeças da pólio. Ele achava que as colunatas, a arquitetura serena e as paisagens montanhosas ofereciam as condições mentais ideais pra o salto intelectual e de criatividade que ele necessitava. Essa história, relatada na edição de abril da Scientific American, em um artigo sobre neurociência de Emily Anthes, intitulado “Como o projeto de ambientes atua sobre seu trabalho e humor”. Salk estava tão convencido do efeito da arquitetura de Assis sobre o seu trabalho que mais tarde contratou Louis Kahn para projetar o agora famoso Instituto Salk, onde a influência de Assis é claramente visível – as colunatas simples e harmoniosas, as vistas, a cor amanteigada da pedra e do mármore italianos. Algumas das descobertas científicas no artigo confirmam aquilo que nós já intuímos, enquanto que outras são mais surpreendentes. Espaços iluminados, brilhantes, com iluminação de amplo espectro, aumentam o grau de vigilância e auxiliam na prevenção da depressão e, em uma idade mais avançada, do declínio cognitivo. Por outro lado, salas destinadas ao relaxamento se beneficiam de cores mais escuras, iluminação rebaixada, poucos cantos vivos nos móveis e prateleiras (pois eles ativam a parte do cérebro que nos alerta para o perigo) e mais tapetes. Tetos baixos melhoram o desempenho em tarefas voltadas aos detalhes, enquanto que tetos altos e encorajam o pensamento criativo abstrato. Vistas da natureza, e em especial de árvores distantes e espaços verdes, comprovadamente auxiliam a criatividade, a concentração e a memória (e combatem o déficit de atenção em crianças). Vale a pena ler o artigo completo abaixo.

Parece óbvio que a arquitetura afete o comportamento e as capacidades humanas, e é exasperante o Ocidente tenha com tanta freqüência que reinventar a roda, normalmente utilizando a ciência pra restaurar o conhecimento – neste caso o conhecimento arquitetônico e cinestésico – que se desenvolveu durante séculos e mesmo milênios em outros locais. Penso, por exemplo, no projeto cuidadoso de mosteiros e igrejas, locais que propiciam inspiração e contemplação, ou nos projetos geniais das residências japonesas. Nos anos 60 e 70, o campo da psicologia ambiental foi pioneiro nessa área, e agora, após uma longa calmaria, o interesse nos efeitos do design arquitetônico sobre o comportamento humano parece estar surgindo novamente. O prédio do BC Cancer Research em Vancouver foi construído de acordo com essas idéias.

Fotos do Salk Institute, La Jolla, Califórnia







Scientific American Mind, 22 de abril de 2009
Como a Arquitetura de Ambientes Afeta o seu Trabalho e o Seu Humor
Pesquisas sobre o cérebro pode auxiliar no projeto de espaços que relaxam, inspiram, despertam, confortam e curam .
Por Emily Anthes

Nos anos 1950, o premiado biólogo Dr. Jonas Salk trabalhava em uma cura para a poliomielite em um laboratório localizado em um porão escuro, em Pittsburg. O progresso era lento, então, para aclarar sua mente, Salk viajou para Assis, na Itália, onde passou algum tempo em um monastério do século 13, vagando entre suas colunas e claustros. Subitamente, Salk foi inundado por novos insights, incluindo aquele que o levaria à bem sucedida vacina contra a pólio. Salk convenceu-se de que sua inspiração veio do ambiente contemplativo. Ele passou a acreditar tão intensamente na capacidade da arquitetura de influenciar a mente que se juntou ao renomado arquiteto Louis Kahn para construir o Instituto Salk em La Jolla, Califórnia, para que ele fosse uma instalação científica capaz de estimular novas descobertas e encorajar a criatividade.
Os arquitetos há muito tempo intuíram que os locais que habitamos podem afetar nossos pensamentos, sentimentos e comportamentos. Mas agora, após um século da inspiradora excursão de Salk, os cientistas do comportamento estão dando a esses palpites uma base empírica. Eles estão desencavando pistas provocadoras referentes a espaços planejados de forma a promover criatividade, manter estudantes concentrados e alertas, ou levar ao relaxamento e à intimidade social. Instituições como a Academia de Neurociências para Arquitetura em San Diego estão encorajando pesquisas interdisciplinares a respeito da influência de ambientes planejados sobre a mente, e algumas escolas de arquitetura estão oferecendo agora aulas introdutórias de neurociências.
Estes esforços já estão influenciando o design, levando a projetos de vanguarda, como residências para idosos com demência, nas quais o prédio é parte do tratamento. Da mesma foram, a Kingsdale School, em Londres, foi reestruturada, com o auxílio de psicólogos, a fim de promover a coesão social; a nova configuração também inclui elementos que estimulam a vigilância e a criatividade. E o melhor é que os pesquisadores estão apenas começando. ‘Tudo isso ainda está na infância’, disse o arquiteto David Allison, que comanda o programa Architecture+ Health na Universidade Clemson. ‘Mas a pesquisa neurocientífica atual pode nos oferecer insights sobre como os ambientes construídos impactam a nossa saúde e bem-estar, sobre com desempenhamos e como sentimos em dados ambientes’.

Pensando Alto

Investigações formais sobre como os humanos interagem com o ambiente construído tiveram início na década de 1950, quando vários grupos de pesquisa analisaram o quanto os projetos de hospitais, em especial de instalações psiquiátricas, influenciavam o comportamento dos pacientes. Nas décadas de 1960 e 1970, o campo conhecido como psicologia ambiental floresceu.
’Havia uma consciência social crescente na arquitetura nessa época’, disse John Zeisel, sociólogo da universidade de Colúmbia que, como presidente do Hearthstone Alzheimer Care, é especializado no projeto de instalações para pessoas com demência. Os arquitetos começaram a se perguntar, segundo Zeisel, ‘O que acontece em relação às pessoas que nós precisamos descobrir, a fim de construir prédios que respondam às necessidades delas?’ O crescimento das ciências do cérebro no final do século 20 deu ao campo um novo arsenal de tecnologias, ferramentas e teorias. Os pesquisadores começaram a questionar ‘como podemos usar os métodos rigorosos da neurociência e o conhecimento mais profundo do cérebro nos nossos projetos’, declarou Eve Edelstein, neurologista visitante na universidade da California, San Diego, e professora adjunta da New School of Architecture and Design, também em San Diego.
As pesquisas atuais podem auxiliar a fundamentar a observação de Salk, segundo à qual aspectos do ambiente físico podem influenciar a criatividade. Em 2007 Joan Meyers-Levy, professora de marketing da Universidade de Minessota, observou que a altura do teto de uma sala afeta o modo de pensar das pessoas. Ela selecionou aleatoriamente 100 pessoas e as dividiu em duas salas: uma com pé-direito de 2,40 metros e outra com altura de 3 metros, e pediu aos participantes que agrupassem os esportes que constavam de uma lista de 10 itens em categorias de sua própria escolha. As pessoas que cumpriram a tarefa na sala com teto mais alto definiram categorias mais abstratas, como “esportes desafiadores” ou “esportes que gostariam de praticar”, do que aqueles nas salas com tetos mais baixos, que ofereceram grupamentos mais concretos, como o número de participantes em um time. ‘A altura do teto afeta o modo pelo qual processamos informação’, Meyer-Levy declarou. ‘Nós nos focamos nos detalhes específicos no caso de tetos mais baixos’.
A partir de suas pesquisas anteriores, que indicam que os tetos elevados fazem com que as pessoas sintam-se menos restritas, a investigadora deduziu que os tetos mais altos encorajam-nas a pensar mais livremente, o que pode conduzi-las a fazer conexões mais abstratas. O sentimento de confinamento produzido por tetos baixos, por outro lado, pode inspirar um olhar mais detalhado – o que pode ser preferível, dependendo das circunstâncias. ‘Depende muito do tipo de tarefa à qual estamos nos dedicando’, explicou Meyers-Levy. ‘Se você estiver em uma sala de operações, talvez um teto baixo seja melhor. Você vai querer que o cirurgião preste atenção nos detalhes’. Da mesma forma, pagar contas parece ser uma tarefa realizada mais eficientemente em uma sala com teto baixo, enquanto que produzir grandes obras de arte pode ser mais fácil em um estúdio com pé-direito bem alto. A altura do teto é, na realidade, aponta Meyers-Levy, menos importante do que a sensação de altura. ‘Acreditamos que é possível conseguir esses efeitos através da manipulação da percepção do espaço’, usando tintas de cores claras, por exemplo, ou espelhos que façam a sala parecer maior.

Foco natural

Além dos tetos altos, a vista a partir de um edifício pode influenciar o intelecto – particularmente, a capacidade de concentração de seus ocupantes. Apesar de sugerir distração, contemplar através de uma janela na verdade melhora a concentração, em especial se forem observadas vistas naturais, como um jardim, campo ou floresta. Um estudo publicado em 2000 pela psicóloga ambiental Nancy Wells (atualmente na Universidade Cornell) e seus colegas, acompanhou crianças de 7 a 12 anos antes e depois de mudanças de residência. Wells e sua equipe avaliaram os panoramas de ambas as casas, as novas e as antigas. Eles descobriram que as crianças cujas vistas tiveram o maior aumento de área verde como resultado da mudança também tiveram os maiores ganhos em um teste de atenção padronizado (os cientistas controlaram as diferenças de qualidade das moradias, e descobriram que esse fator não estava associado com a atenção). Outro experimento demonstrou que alunos de ensino superior cujos dormitórios tinham janelas com vista para a natureza tiveram melhor desempenho em testes de concentração mental do que aqueles que possuíam vista para estruturas feitas inteiramente pelo homem.
Espaços de brincadeira com vegetação parecem beneficiar especialmente estudantes com distúrbios de atenção. O paisagista e pesquisador William Sullivan, da Universidade de Illinois, e seus colegas estudaram 96 crianças com distúrbios de déficit de atenção (DDA). Os cientistas pediram aos pais que descrevessem a capacidade de concentração de seus filhos – por exemplo, para executar tarefa de casa ou seguir instruções verbais – após as crianças terem realizado atividades como pescaria, futebol e jogos de videogame nos quais eram expostas a várias quantidades de vegetação. ‘Os pais relataram que os sintomas de DDA me seus filhos foram menos severos depois que eles observaram espaços verdes’, segundo Sullivan, que teve os resultados de suas pesquisas publicados em 2001.
Essas descobertas podem ser o resultado de um efeito restaurativo na mente, causado pela contemplação de cenários naturais, de acordo com a idéia proposta pelos psicólogos Stephen Kaplan e Rachel Kaplan. De acordo com essa teoria, as exigências do mundo moderno podem gerar fadiga mental, enquanto que precisamos de pouco esforço para olhar para uma paisagem, e isso pode oferecer à mente um descanso muito necessário . ‘Vários estudos mostram que, quando as pessoas olham para paisagens naturais, sejam elas reais ou projetadas em uma tela, sua capacidade de concentração melhora’, disse Stephen Kaplan.
De acordo com Sullivan, vistas da natureza podem ser mais revigorantes do que cenas urbanas, porque os humanos têm uma tendência inata de responder positivamente à natureza – uma explicação chamada de hipótese da biofilia. ‘Evoluímos em um ambiente que nos predispõe a funcionar mais eficazmente em espaços verdes, segundo ele. Em um artigo de dezembro de 2008 publicado na revista Psychological Science, Stephen Kaplan propõe também que os ambientes urbanos são muito estimulantes e que prestar atenção a eles – e a seus tráfegos e multidões – requer mais trabalho cognitivo do que contemplar um grupo de árvores.
Usar a natureza para melhorar a atenção vale a pena, em termos acadêmicos , de acordo com um estudo que será publicado na primavera de 2009, conduzido por C. Kenneth Tanner, chefe do School Design & Planning Laboratory da universidade da Georgia. Em sua análsie de mais de 10000 alunos do 5º ano em 71 escolas elementares da Georgia, Tanner e seus colegas descobriram que alunos em salas de aula com vista desobstruída alcançando pelo menos 15 metros para fora da janela, incluindo jardins, montanhas e outros elementos naturais, obtiveram melhores resultados em testes de vocabulário, linguagem, artes e matemática do que alunos sem vistas tão amplas ou cujas classes tivessem vista para estradas, estacionamentos ou outros equipamentos urbanos.

Vendo a luz

Além da vegetação, o mundo natural tem algo mais a oferecer aos ocupantes de edifícios: luz. A luz do dia sincroniza o nosso ciclo sono-vigília, ou ritmo circadiano, permitindo que permaneçamos alertas durante o dia e que tenhamos sono à noite. Contudo, muitos prédios institucionais não são planejados para permitir a entrada de tanta luz natural quanta a que a nossa mente e nosso corpo necessitam.
A falta de luz pode ser um problema, particularmente para crianças em idade escolar. ‘Pegue uma criança que, provavelmente, não descansou o suficiente, coloque-a em uma sala de aula onde há muito pouca luz natural e, adivinhe? Ela vai ter jet lag’, declarou Tanner. Um estudo de 1992 acompanhou crianças suecas em idade escolar de quatro diferentes salas de aula, durante um ano. A pesquisa revelou que as crianças em salas de aula com a menor quantidade de luz do dia tinham níveis inconstantes de cortisol, um hormônio cuja produção é regulada pelo ritmo circadiano do corpo.
A quantidade adequada de luz solar provou melhorar o desempenho dos estudantes. Em 1999, o Heschong Mahone Group, uma consultoria baseada na Califórnia, especializada na construção de estruturas energeticamente eficientes, recolheu resultados de testes padronizados de matemática e leitura aplicados em mais de 21000 alunos de educação elementar de três distritos escolares, em três estados: Califórnia, Washington e Colorado. Através de fotografias, plantas arquitetônicas e visitas, os pesquisadores determinaram a incidência de luz diurna de mais de 2000 salas de aula, e a classificaram em valores de 1 a 5. Em um dos distritos escolares – Capistrano, na Califórnia – os alunos da sala mais ensolarada tiveram progresso 26% mais rápido em leitura e 20% em matemática em um ano do que aqueles com menos incidência de luz diurna em suas salas de aula. Nos outros dois distritos, a melhor iluminação aumentou os escores entre 7 e 18%.
Asilos também parecem não ser iluminados o suficiente para manter o ritmo circadiano regulado normalmente. Em um estudo publicado em 2008, o neurocientista Rixt F. Riemersma-van der Lek, do Instituto Holandês de Neurociência, e seus colegas selecionaram aleatoriamente seis de 12 residências para idosos na Holanda, para que tivessem iluminação suplementar instalada, aumentando a luminosidade para aproximadamente 1000 lux; as outras seis continuaram oferecendo luminosidade por volta de 300 lux. Nos testes feitos em intervalos de seis meses, durante três anos e meio, os residentes nos edifícios mais iluminados mostraram queda cognitiva 5% menor do que os ocupantes dos seis prédios mais escuros. A iluminação adicional também reduziu os sintomas de depressão em 19%. Outros estudos mostram que o ritmo circadiano mantém o cérebro em sua melhor forma, calibrando os níveis de hormônio e a taxa metabólica, por exemplo. Pessoas idosas – principalmente aquelas com demência – frequentemente sofrem de disfunções circadianas. Os pesquisadores acreditam que a oferta de luz diurna pode ter auxiliado a restaurar o ritmo adequado e, portanto, a melhorar a função cerebral como um todo.
O comprimento de onda da luz também é crucial. Nosso sistema circadiano é regulado primariamente por luz azul de ondas curtas; os fotorreceptores que retroalimentam o núcleo supraquiasmático, a parte do hipotálamo que regula nosso ritmo diário, transmitem mais impulsos nervosos para o cérebro quando detectam luz azul. Essa luz de ondas curtas, presente na luz solar, permite que o cérebro e o corpo saibam que é dia. Em contraste, nossos cones e bastonetes, que são responsáveis pela visão, funcionam de maneira mais eficaz quando expostos a luz verde ou verde-amarelada.
Pesquisadores recomendam o uso de diodos emissores de luz azul (LEDs) e lâmpadas fluorescentes de amplo-espectro durante o dia; ambas emitem luz azulada o suficiente para acionar o sistema circadiano e manter os ocupantes do edifício acordados e alerta. Após escurecer, os prédios poderiam trocar sua iluminação por lâmpadas emissoras de ondas mais longas, que são menos suscetíveis de emitir o comprimento de onda detectado pelo sistema circadiano, interferindo menos no sono noturno, portanto. ‘Seria uma decisão arquitetônica importantíssima oferecer às pessoas, se possível, um esquema de iluminação no qual elas pudessem diferenciar o dia da noite’, de acordo com Mariana Figueiro, diretora do programa do Centro de Pesquisas da Iluminação, do Rensselaer Polytechnic Institute.

Um lugar para relaxar

Apesar da luz brilhante melhorar a cognição, pesquisas recentes indicam que ela vai contra o relaxamento e a receptividade – efeitos que podem ser mais importantes do que a vigilÂncia em alguns ambientes. Em um estudo de 2006, terapeutas entrevistaram 80 estudantes universitários, individualmente, em uma sala ora escurecida, ora bem iluminada. Os estudantes, depois, preencheram um questionário sobe suas reações à entrevista. Os estudantes que foram entrevistados na sala menos iluminada sentiram-se mais relaxados, viram o terapeuta de forma mais positiva e deram mais informações sobre si mesmos que aqueles atendidos na sala mais clara. As descobertas sugerem que a luz rebaixada auxilia as pessoas a se soltarem. Se isso, de forma geral, é verdade, manter as luzes baixas durante jantares ou festas pode produzir relaxamento e intimidade.
O conteúdo de uma sala também pode ser reconfortante – ou o oposto. O neurocientista Moshe Bar, da Escola de Medicina de Harvard, e Maital Neta, seu auxiliar de pesquisa na época, mostraram aos sujeitos fotografias de várias versões de objetos neutros, como sofás e relógios. Os exemplos para cada item eram idênticos, exceto que alguns tinham cantos curvos ou arredondados, enquanto que outros possuíam cantos vivos. Quando perguntados sobre sua preferência, os sujeitos selecionaram preferencialmente as versões com curvas. Bar especulou que essa preferência existe porque associamos cantos vivos com perigo. Para ele, ‘talvez bordas aguçadas estejam codificadas em nosso cérebro como possíveis ameaças’.
Bar conseguiu algumas evidências para essa teoria em um estudo de 2007, no qual sujeitos observaram uma série de objetos neutros – desta vez, enquanto seus cérebros eram escaneados por ressonância magnética funcional. O neurocientista descobriu que a amídala, que está envolvida no processo do medo e da ativação emocional, se mostrava mais ativa quando as pessoas olhavam para objetos com ângulos agudos. ‘As bases dessa percepção se encontram muito profundamente em nosso cérebro’, explicou Bar. ‘Informação de alto nível, tal como “Alerta vermelho!” ou “Relaxe, é tudo macio, não existe ameaça na área”, é transmitida para nós por propriedades visuais muito básicas. Ele reconhece que o contorno de um objeto não é o único elemento que denuncia nossas preferências estéticas, e sua pesquisa ainda está em estágios iniciais. Masé válido dizer que uma sala de estar ou de espera mobiliada com móveis com cantos arredondados ou curvos pode auxiliar os visitantes a relaxar.
A escolha por móveis também pode influenciar as interações humanas. Algumas das pesquisas mais antigas em psicologia ambiental tinham seu foco em planejamento de assentos em instalações residenciais de cuidado à saúde.; os cientistas descobriram que a prática comum de se posicionar cadeiras ao longo das paredes das salas de convivência ou de estar dos pacientes evitava a socialização. A melhor distribuição para encorajar a socialização, segundo os pesquisadores, é organizar os móveis em pequenos grupos espalhados pela sala. Um estudo de 1999 feito por psicólogos da Universidade de Magdeburg, na Alemanha, e Universidade de Upsala, na Suécia, examinou os locais para sentar em diversos ambientes. Durante oito semanas e mais de 50 aulas, os pesquisadores revezaram os assentos dos alunos entre duas diferentes configurações: carteiras em fila e um semicírculo de carteiras ao redor do professor. A configuração em semicírculo aumentou a participação dos estudantes, aumentando o número de perguntas feitas pelos alunos. Outros estudos sugerem que dispor as carteiras em fileiras encoraja os estudantes a trabalharem independentemente e melhora o comportamento da turma.
Pisos acarpetados também ajudam na interação social. Em hospitais, os pisos acarpetados aumento o tempo de visita de amigos e parentes dos doentes, de acordo com uma estudo de 2000 liderado pela especialista em planejamento de ambientes de cuidado à saúde Debra Harris, hoje presidente e CEO da RAD Consultants, em Austin. Esse suporte social pode, inclusive, tornar a recuperação mais rápida. Sem dúvida que o carpete é mais difícil de limpar do que os pisos tradicionais utilizados em hospitais – e pode apresentar riscos à saúde em alguns ambientes - por isso pode não ser apropriado para locais como salas de emergência, onde há grande rotatividade de pacientes e bastante sujeira. Mas salas, prédios ou alas que servem de residência para pacientes de longo termo, como instalações de manutenção de vida assistida, podem se beneficiar de carpetes.
Até agora os cientistas focaram-se principalmente em prédios públicos, como hospitais, escolas e lojas. Desta forma, o dono de uma casa interessado em estimular sua mente através do design deve fazer alguma extrapolação. ‘Temos um número muito limitado de estudos, por isso nossa visão do problema ainda é muito limitada’, disse Allison. “Agora precisamos encontrar padrões mais gerais. Como pegar respostas para questões muito específicas e fazer um uso generalizado delas? É isso que estamos tentando descobrir’.
Esse esforço deve valer a pena, acreditam os especialistas, porque os ocupantes irão se beneficiar cada vez que um projeto for construído com foco na mente. Unidades de cuidado especial para pacientes de Alzheimer bem projetadas reduzem ansiedade, agressão, isolamento social, depressão e psicose, de acordo com um estudo feito em 2003 por Zeisel e seus colegas. E os projetos escolares podem ser os responsáveis por uma variação de 10 a 15% no rendimento de alunos de escolas secundárias, em um teste padronizado de habilidades de leitura e matemática, sugere um trabalho de investigadores da universidade da Geórgia.
‘Devido aos avanços da neurociência, podemos começar a medir os efeitos do ambiente com um nível de detalhe muito maior do que dispúnhamos antes’. Diz Edelstein. ‘Podemos compreender melhor o ambiente, podemos compreender melhor nossas respostas, e podemos correlacioná-los.”.