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sexta-feira, 11 de março de 2011

Manuais de Instrução são para os Fracos

Você compra um celular novo, ou um computador, ou uma tranqueira eletrônica qualquer, não importa. A primeira coisa que faz é ler o manual, certo? Errado. Por que nada substitui A experiência, que começa mesmo antes da compra. Antes vem o encantamento - você está lendo uma revista, olhando uma vitrine, visitando um amigo, de repente bate os olhos na coisa e pensa: é isso o que eu quero pra mim! Ou porque ela é justamente o que você estava precisando, ou porque você achou aquilo simplesmente lindo, ou porque você precisa preencher um vazio que nem você sabia que tinha, os motivos são vários e não vêm ao caso. Ai, pesquisa, olha preços, namora de longe, consulta os amigos, faz contas, desiste, pesquisa de novo, resolve que vale a pena, decide que é isso mesmo que você quer e... Pronto, a coisa desejada se torna sua. Agora que você tem o objeto tão sonhado nas mãos, vai perder tempo lendo manuais? Você quer mais é ligar o bichinho, ver ele se acender ao seu toque, descobrir os seus mistérios, aprender até onde você pode chegar. Pesquisadores levaram anos desenvolvendo interfaces intuitivas para que você não tenha que interromper a experiência para ler manuais de instrução. E então você fica entusiasmado ao descobrir que o seu novo celular tem um recurso que você nunca havia imaginado que ele tivesse - faz fotos panorâmicas, por exemplo.

Se isso acontece na nossa relação com esses aparelhos que vêm prontos de fábrica, com seus recursos limitados, imagine então o que acontece quando o objeto em questão é humano. Gente não vem pronta, gente vai se fazendo com o tempo, vai ganhando novos recursos, vai ampliando fronteiras... As pessoas ainda não foram terminadas, elas estão sempre mudando, já escreveu o meu querido Guimarães Rosa. Como criar um manual de instruções pra algo que você não sabe aonde pode chegar? E, mesmo que isso fosse possível, qual seria a graça?

quinta-feira, 10 de março de 2011

Como diferenciar uma obra-prima de uma pintura feita por um macaco

Jack Pezanosky, 4 anos


Elizabeth Haggarty (Toronto Star)

Publicado em 08 março 2011 (Trad Angelica Rente. Original disponível em http://www.thestar.com/news/world/article/950518--how-to-tell-a-masterpiece-from-a-painting-by-a-monkey?bn=1)

Não, o seu macaco de estimação não poderia ter pintado aquele Pollock.

E se você planeja visitar a exposição Expressionismo Abstrato no AGO (Art Gallery of Ontario) neste verão, pode ficar sossegado: o seu filho de quatro anos com um pincel não chegará perto do Willem de Kooning pendurado à sua frente.

Uma pesquisa de Angelina Hawley-Dolan e Ellen Winner, do Departamento de Psicologia do Boston College, sugere que mesmo olhos destreinados são capazes de distinguir entre pinturas feitas por artistas expressionistas abstratos e trabalhos similares feitos por macacos, elefantes e crianças.

“Eu estava conversando com a minha orientadora sobre a opinião comum a grande parte das pessoas de que as obras expressionistas abstratas poderiam ter sido pintadas por uma criança , e que elas não envolvem habilidade, intencionalidade ou planejamento”, explicou Hawley-Dolan em uma entrevista para o Star.

As duas decidiram criar um teste para saber se isso é verdade.

O estudo comparou 30 pinturas de artistas consagrados com trabalhos de animais do zoológico e crianças.

“As pinturas foram combinadas nos quesitos linha, cor, pincelada e técnica”, explica Howley-Dolan. “Para formarem um par, cada imagem devia assemelhar-se à outra em dois desses aspectos”.

Por exemplo, Laburnum, do consagrado Hans Hofmann, formou par com os rabiscos de Jack Pezanosky, de quatro anos.

Estudantes universitários foram então convidados a julgar os pares com base em qual dos trabalhos preferiam, e qual deles achavam ter sido feito por um profissional.

Inicialmente, foram mostradas pinturas com as assinaturas dos artistas removidas a 32 estudantes de arte e 40 de psicologia. Em seguida, eles observaram pinturas identificadas incorretamente como tendo sido pintadas por um artista ou por um animal exótico. Mais tarde, as pinturas tiveram seus autores identificados corretamente.

Em todos os casos, mais de 60% dos estudantes foram capazes de escolher as pinturas feitas por profissionais, independentemente dos seus estudos serem focados na área de artes.

“Os estudantes de arte não foram de maneira alguma afetados pelas etiquetas”, disse Hawley-Dolan. “Quanto aos outros estudantes, não tiveram suas preferências afetadas pelas etiquetas, mas seu julgamento, sim”.

Quando as obras eram identificadas corretamente, os estudantes de psicologia, na maior parte das vezes, tendiam a dizer que as obras haviam sido pintadas por um profissional.

Porém, quando as pinturas estavam identificadas erroneamente – por exemplo, se uma obra de Mark Rothko fosse creditada a um elefante – os estudantes não se deixaram enganar. Eles ainda escolheram o profissional, mais ou menos na mesma proporção de quando as pinturas não estavam identificadas.

Também houve uma discrepância no que se refere às obras preferidas pelos estudantes. As obras escolhidas pelos estudantes de arte como tendo sido feitas por profissionais apresentaram alta correlação com aquelas que eles preferiam. Quando apresentados aos trabalhos identificados corretamente, contudo, 79% dos estudantes de psicologia os descreveram como obras de profissionais, enquanto que apenas 58% disseram preferir as pinturas feitas por artistas.

Então, como identificar obras de profissionais, quando tanto macacos quanto artistas criaram algo que se parece com rabiscos em uma folha de papel?

“Em relação ao julgamento, ao observar as imagens criadas por artistas, tanto os estudantes de arte quanto os de psicologia falaram mais sobre intenção, sobre como ‘essa pincelada parece ter sido mais planejada’”, declarou Howley-Dolan. “Eles falaram sobre cores e sobre como o executor planejou a disposição das mesmas. Eles se referiram a... ver a mente além da arte”.

O estudo sugere que o que diferencia um pintor profissional de um animal ou de uma criança é a habilidade do observador de ver o pensamento que se tornou pintura. Mas isso não significa que nós preferimos os seus trabalhos.

E, como Hawley-Dolan aponta, “Podemos olhar para esse estudo como para um copo meio cheio ou meio vazio. É difícil distinguir o trabalho de uma criança do de um artista profissional (os participantes do estudo erraram, em média, em 40% das vezes). É isso que a maioria das pessoas diz com freqüência, e em parte das vezes isso é verdade”.