Você compra um celular novo, ou um computador, ou uma tranqueira eletrônica qualquer, não importa. A primeira coisa que faz é ler o manual, certo? Errado. Por que nada substitui A experiência, que começa mesmo antes da compra. Antes vem o encantamento - você está lendo uma revista, olhando uma vitrine, visitando um amigo, de repente bate os olhos na coisa e pensa: é isso o que eu quero pra mim! Ou porque ela é justamente o que você estava precisando, ou porque você achou aquilo simplesmente lindo, ou porque você precisa preencher um vazio que nem você sabia que tinha, os motivos são vários e não vêm ao caso. Ai, pesquisa, olha preços, namora de longe, consulta os amigos, faz contas, desiste, pesquisa de novo, resolve que vale a pena, decide que é isso mesmo que você quer e... Pronto, a coisa desejada se torna sua. Agora que você tem o objeto tão sonhado nas mãos, vai perder tempo lendo manuais? Você quer mais é ligar o bichinho, ver ele se acender ao seu toque, descobrir os seus mistérios, aprender até onde você pode chegar. Pesquisadores levaram anos desenvolvendo interfaces intuitivas para que você não tenha que interromper a experiência para ler manuais de instrução. E então você fica entusiasmado ao descobrir que o seu novo celular tem um recurso que você nunca havia imaginado que ele tivesse - faz fotos panorâmicas, por exemplo.
Se isso acontece na nossa relação com esses aparelhos que vêm prontos de fábrica, com seus recursos limitados, imagine então o que acontece quando o objeto em questão é humano. Gente não vem pronta, gente vai se fazendo com o tempo, vai ganhando novos recursos, vai ampliando fronteiras... As pessoas ainda não foram terminadas, elas estão sempre mudando, já escreveu o meu querido Guimarães Rosa. Como criar um manual de instruções pra algo que você não sabe aonde pode chegar? E, mesmo que isso fosse possível, qual seria a graça?
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