Diversão, arte, literatura, psicologia, e muito mais

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Motivo - Cecília Meireles


Motivo
Cecília Meireles

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Roda pela Paz na Universidade São Marcos Tatuapé


21 de setembro – 19 horas

Inauguração
do prédio da PSICOLOGIA

Venha participar da INAUGURAÇÃO DO NOVO PRÉDIO DA PSICOLOGIA, comemorando o Dia Mundial da Paz

Universidade São Marcos – Curso de Psicologia Tatuapé
Rua Coelho Lisboa, 439
21/09, segunda-feira, às 19h – Piso Superior

Venha de branco e entre na roda para dançar pela paz!

terça-feira, 15 de setembro de 2009

sábado, 29 de agosto de 2009

Guimarães Rosa - Grande Sertão, Veredas

Como não ter Deus?! Com Deus existindo, tudo dá esperança: sempre um milagre é possível, o mundo se resolve. Mas, se não tem Deus, há-de a gente perdidos no vai-vem, e a vida é burra. É o aberto perigo das grandes e pequenas horas, não se podendo facilitar - é todos contra os acasos. Tendo Deus, é menos grave se descuidar um pouquinho, pois no fim dá certo.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Alberto Caeiro - Ficções do Interlúdio

O meu olhar azul como o céu
é calmo como a água ao sol.
É assim, azul e calmo,
porque não interroga nem se espanta...

Se eu interrogasse e me espantasse
não nasciam flores novas nos prados
nem mudaria qualquer cousa no sol de modo a ele ficar mais belo...
(Mesmo se nascessem flores novas no prado
e o sol mudasse para mais belo,
eu sentiria menos flores no prado
e achava mais feio o sol...
Porque tudo é como é e assim é que é,
eu aceito e nem agradeço,
para não parecer que penso nisso...)

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Hanami

O vento sopra.
No pomar das cerejeiras
Chovem flores.



Bosque das Cerejeiras. Parque do Carmo, SP.
Hai-cai, fotos e edição: Angelica Rente

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Fernando Pessoa - O guardador de rebanhos

II - O Meu Olhar

O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de, vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo.Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender ...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar ...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Libertação: Declaração Universal - Alejandro Spangenberg

Em ato unilateral e inconsulto declaro hoje a independência total do meu ser. De agora em diante, habitarei o território livre de meu espírito e assentarei as bases para a construção da República Separatista da Existência Digna. Livre, por fim, de toda a opressão, não importa onde eu esteja ou que nome tenha, minha luta e o sentido da minha vida estarão na libertação das crianças, na defesa implacável e inflexível da natureza e de tudo o que existe neste mundo maravilhoso.

Anarquista e amante me declaro, por isso não obedecerei a ninguém e não pedirei que me obedeçam. Minha cabeça inclina-se apenas diante da morte e do mistério infinito da vida. Minha humildade será a do guerreiro, nascida do respeito e do assombro perante a criação, nem maior e nem menor do que tudo o que existe. Não haverá poder humano que dobre minhas convicções, e na minha vida não haverá espaço para as concessões, salvo para aquelas ditadas pelo meu coração e escritas com a mão da ternura.

A meus filhos acalentarei com meus próprios braços e, quando estiverem prontos, os deixarei partir, livres como pássaros, voando em direção a seu destino.

Só, perante Deus, decreto e reivindico meu direito a ocupar um lugar entre os mistérios do Universo e, enquanto as forças incompreensíveis que regem o meu destino não determinarem o contrário, declaro que viverei minha vida com total intensidade, sem sujeitar-me ao pensamento alheio, nem às condicionantes da sociedade, durante o tempo em que me for dado viver.
Assumirei meu destino qualquer que ele seja, sem queixas nem renúncias, e ainda que nunca o consiga, lutarei com todas as minhas forças por merecer e não desperdiçar esta única e irrepetível oportunidade de estar vivo. Como sei que hei de morrer, qualquer que seja a forma de vida que escolha, hoje, com plena consciência, decido viver uma vida com significado, só por prazer e não porque espere qualquer recompensa.

De hoje em diante só acreditarei nos atos dos homens, e não em suas palavras. Meus inimigos são e serão os que lutam pela morte, aprisionam a imaginação, perseguem a beleza,acumulam riqueza, castigam as crianças, humilham os despossuídos e pisoteiam a verdade.

Saibam todos que hoje começou a Revolução.

Declaro que a partir de agora não me importarei em estar sozinho, e que aceitarei unicamente a companhia de quem ama a canção e o vinho,vive sem pedir permissão e está disposto a viver por suas convicções.

Por fim decreto e assumo meu direito irrenunciável de existir e de escolher quem sou, livre por fim de todas as identidades herdadas. Digo que meu lugar é o mundo; minha irmã, a liberdade; e que em todas as noites, sem o menor pudor, eu faço Amor.

Assim termino esta multitudinária assembléia unipessoal, porque cada homem que se liberta redime a toda humanidade. Motivo pelo qual, com absoluta falta de respeito, decidi desobedecer a todos os poderes e autoridades para converter-me em único condutor da minha vida.

Com toda a autoridade que emana deste ato, perante mim selo e firmo este compromisso.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Leitura de férias

Na praia, uma rede na varanda... É a oportunidade que eu esperava para fazer uma das coisas que mais gosto nas férias: ler, simplesmente, tudo o que cair nas minhas mãos. De enciclopédia velha a bula de remédio, vale tudo. Listo e comento, a seguir, o que li nas últimas férias:

Uma história íntima da humanidade, Theodore Zeldin - é uma viagem no tempo. Zeldin levanta, em pesquisa com mulheres francesas, alguns sentimentos sempre presentes na humanidade, como a solidão, o relacionamento entre homens e mulheres, entre outros, e busca suas origens na história. Denso, informativo, muito gostoso de ler.

O filho eterno, Cristovão Tezza - perfeito, merece todos os prêmios que ganhou e muitos mais. É de uma honestidade brutal, que choca e faz pensar.

O tigre branco, Aravind Adiga - um panorama da Índia atual, muuuuuuito além de "Caminho das Índias".

A cidade do sol, Khaled Hosseini - me fez pensar nas pessoas que vivem em situação de guerra, e em como a realidade delas é distante das nossa, por mais que nos esforcemos em compreender.

As belas coisas, que é do céu contê-las,
Dinaw Mengestu - procura ir pelo mesmo caminho de Khaled Hosseini, mas ainda precisa comer muito arroz com feijão.

O jogo do anjo,
Carlos Ruiz Zafón - argumento bom, prosa ruim. Metáforas desastradas ("chuva negra que desmoronava do céu em lágrimas de alcatrão"? Fala sério...) e uma profusão de lágrimas negras, olhares gélidos e sorrisos lupinos. Zafón deve ter lido muito Edgar Allan Poe e H.P. Lovecraft, mas não entendeu direito.

Sombras da noite,
Stephen King - atualmente, ninguém escreve terror e mistério como Stephen King. Ele consegue ser convincente, mesmo nas situações mais absurdas.

Sob o sol da Toscana,
Frances Mayes - que delícia! Me deu vontade de arrumar as malas e me mandar pra Itália, viver em uma casa no alto de um morro da Toscana, no meio de um jardim, assando pão com alecrim e tomando vinho sob um caramanchão de flores... Me disseram que o filme baseado no livro é muito bom de assistir, mas ainda não consegui encontrá-lo.

Crepúsculo, Lua nova, Eclipse,
Stephenie Meyer - como boa mãe e tia de adolescentes, fui ler a nova coqueluche (que termo antigo!) da meninada. Dá para entender por que as meninas ficam fascinadas pelo Edward Cullen! Afinal, nada mais sexy do que um vampiro...

Cem anos de solidão, Gabriel Garcia Marques - pela terceira vez. Adoro o realismo mágico desses autores sul-americanos: Marques, Mario Vargas Llosa, Isabel Allende... Aqui, sim, encontrei metáforas boas: borboletas amarelas, por exemplo.