Trabalhando com encáustica
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Um dos retratos em múmias de Fayum, Egito, século 1a.C.
A encáustica é uma técnica milenar, datando de pelo menos 3000 anos. A
palavra tem origem no termo...
sexta-feira, 21 de maio de 2010
Hai Kai
De que árvore florida
chega? Não sei.
Mas é seu perfume...
Matsuo Bashô
Hai kai (ou haiku) é uma forma poética tradicional do Japão. Ela se baseia nos preceitos do zen-budismo, e procura registrar, de maneira muito sintética, a impressão de um momento. O hai kai tradicional se desenvolve em três linhas, sendo que a primeira tem cinco sílabas (poéticas ou não) a segunda, sete, e a terceira, outras cinco. O uso de metáforas é evitado, e apresenta-se um evento em particular que ocorre no aqui-e-agora, fazendo referências constantes à fenômenos da natureza, em especial as estações do ano.
Dá para perceber que tudo isso tem muita relação com a Gestalt-terapia e com a Fenomenologia, não é? Então, como admiro e estudo essas abordagens, assim como a cultura japonesa, tentei escrever alguns hai kais, que estou postando aqui. Espero estar no caminho certo. Em português não há a exigência tão rígida da contagem das sílabas, mas eu procurei respeitá-la, ou pelo menos ficar o mais próximo possível.
Branco, preto, gesto
A arte se revela entre
olho, mão, papel.
Garoa fina.
No tronco da velha árvore
Acorda a orquídea.
Vento forte
No pomar das cerejeiras:
Chuva rosada.
Epifania
Escrevi esse poema buscando expressar meus sentimentos em relação à minha primeira aula de Aikidô. Bueno sensei me honrou muito ao aceitá-lo como presente pelos 16 anos do Dojô Harmonia. Já o tinha postado como comentário no blog do Bueno e no Facebook, mas não aqui. Então, ai vai:
Primeiro, reverenciar o vazio. O vazio?
De repente, uma epifania: tudo o que estudei até agora, tudo aquilo no que acredito
Condensado, em um momento de silêncio
Encarando o vazio
Espaço prenhe de possibilidades, onde nada ainda existe
Mas que contém a semente de tudo que pode existir
Pela ação daquele que contempla
E compreendi então porque espada e pincel se complementam
E porque tudo o que existe está no aqui e no agora
Tudo se inicia no entre coisas
Entre meu olho e o papel
Entre eu e o outro que, ao colocar o seu corpo a meu dispor
Ensina-me o que fazer com o meu próprio corpo
Domo arigato gozaimashita!
Aikidô
Danças Circulares Sagradas
Pintura
Gestalt terapia
São modos de aprender a ser
E de apreender a inteireza do mundo
Na relação com o outro
Pois só existem na relação
Não se pratica aikidô sozinho
Assim como não é possível dançar em roda solitariamente
Minha pintura só existe porque há alguém que a vê
Psicologia só se faz porque o outro existe
E porque existe o vazio
Cheio de nada e de potência.
29 abr 2010
terça-feira, 4 de maio de 2010
Déjà vu
Hoje, preparando o jantar (algo que não fazia a muito tempo, infelizmente), tive uma sensação completamente proustiana, um déjà vu, uma memória encarnada. Minha madeleine foi um ovo cozido.
Descascando um ovo, lembrei subitamente de minha tia, irmã da minha mãe, e de como quando eu era criança adorava passar os primeiros dias das férias, junto com o primo Paulo, na casa onde ela morava junto com a minha avó. Esperávamos a avó dormir e passávamos divertidíssimas noites em claro, assistindo filmes de terror e comendo ovos cozidos as três da manhã. Tudo aquilo que era proibido em casa. Tia Terry era uma feiticeira do bem que me ensinou muitas coisas, entre elas que existem mistérios ocultos e como dar os primeiros passos na transgressão...
E comecei a lembrar de minhas outras tias, e de como a minha infância foi povoada de mulheres. Minha mãe tinha quatro irmãs. Ela, assim como duas de minhas tias, tristemente nos deixaram muito cedo. Mas tenho lindas memórias de uma casa repleta de belas mulheres um tanto maluquinhas, inteligentes, interessantes, que, por força da cultura machista e de um pai linha dura, nunca puderam explorar plenamente suas potencialidades. Fico imaginando que hoje, se elas estivessem vivas, eu estaria cercada por velhas perigosas, como definidas por Clarissa Pinkola Estés: sábias, amorosas, acolhedoras, inconformistas, sem medo de manifestar sua força feminina e de ser quem realmente são. Agora, sentada aqui em meu atelier, cercada por uma coleção um tanto idiossicrática de livros, ouvindo músicas que talvez pouquíssimas pessoas ouçam, rodeada pelas minhas pinturas, na companhia da Catarina, nossa negra gata residente, percebo que, de certa forma, realizo em mim as potencialidades adormecidas nessas mulheres que me fizeram quem sou. Felizmente descobri o caminho para me tornar também uma velha perigosa.
A idade trás algumas vantagens com ela. A possibilidade de dizer o que se pensa e de agir como se quer são algumas delas. Porque a idade trás também a sabedoria para saber que palavras são poderosas, e que o exemplo pela ação é o que realmente educa. E é essa sabedoria que também permite que saibamos quais as palavras que podem ser ditas e que pode ser feito.
Descascando um ovo, lembrei subitamente de minha tia, irmã da minha mãe, e de como quando eu era criança adorava passar os primeiros dias das férias, junto com o primo Paulo, na casa onde ela morava junto com a minha avó. Esperávamos a avó dormir e passávamos divertidíssimas noites em claro, assistindo filmes de terror e comendo ovos cozidos as três da manhã. Tudo aquilo que era proibido em casa. Tia Terry era uma feiticeira do bem que me ensinou muitas coisas, entre elas que existem mistérios ocultos e como dar os primeiros passos na transgressão...
E comecei a lembrar de minhas outras tias, e de como a minha infância foi povoada de mulheres. Minha mãe tinha quatro irmãs. Ela, assim como duas de minhas tias, tristemente nos deixaram muito cedo. Mas tenho lindas memórias de uma casa repleta de belas mulheres um tanto maluquinhas, inteligentes, interessantes, que, por força da cultura machista e de um pai linha dura, nunca puderam explorar plenamente suas potencialidades. Fico imaginando que hoje, se elas estivessem vivas, eu estaria cercada por velhas perigosas, como definidas por Clarissa Pinkola Estés: sábias, amorosas, acolhedoras, inconformistas, sem medo de manifestar sua força feminina e de ser quem realmente são. Agora, sentada aqui em meu atelier, cercada por uma coleção um tanto idiossicrática de livros, ouvindo músicas que talvez pouquíssimas pessoas ouçam, rodeada pelas minhas pinturas, na companhia da Catarina, nossa negra gata residente, percebo que, de certa forma, realizo em mim as potencialidades adormecidas nessas mulheres que me fizeram quem sou. Felizmente descobri o caminho para me tornar também uma velha perigosa.
A idade trás algumas vantagens com ela. A possibilidade de dizer o que se pensa e de agir como se quer são algumas delas. Porque a idade trás também a sabedoria para saber que palavras são poderosas, e que o exemplo pela ação é o que realmente educa. E é essa sabedoria que também permite que saibamos quais as palavras que podem ser ditas e que pode ser feito.
domingo, 2 de maio de 2010
Alice no Pais da Maravilhas: o filme.
Então, me animei e fui assistir ao filme, com o Pedro e a Bruna, meus companheiros de cinema. Assistimos na versão 2D, não curto muito filmes em 3D.
Como em todos os filmes do Tim Burton o visual é demais! Cenários, figurinos, maquiagens, tudo é muito exuberante e, as vezes, sinistro. A cara dele. Em alguns momentos fiquei imaginando a atração da Disney que poderá ter origem no filme.
Porém (tudo tem um porém), pra quem leu Alice quando era criança e adorou, acho que a opção de modificar a história para que a personagem principal tenha 19 anos não foi tão acertada. Quero dizer, tem momentos em que o comportamento dela é tolinho demais pra quem tem 19 anos, mesmo que no início do século passado. Além disso, a atriz escolhida é de uma inexpressividade que chega a ser constrangedora, em alguns momentos. O diretor também fez uma opção fácil ao querer contar uma história que fizesse sentido. Quem leu os livros, tanto Alice no País das Maravilhas quanto no País do Espelho sabe que a narrativa é totalmente nonsense, e é isso que faz dela algo tão especial.
Como sempre, o melhor figurino é do Johnny Depp, e a melhor atuação também. Como você já deve ter percebido pela foto acima, meu personagem preferido é o Gato de Cheshire, simpaticíssimo, que, aliás, tem um papel muito mais importante no livro. Uma das falas dele é impagável, quando diz a Alice que, já que ela não sabe para onde quer ir, não importa o caminho que tome.
No geral, o filme é bom, mas eu não levaria meus sobrinhos de 10 anos pra assistir...
Como em todos os filmes do Tim Burton o visual é demais! Cenários, figurinos, maquiagens, tudo é muito exuberante e, as vezes, sinistro. A cara dele. Em alguns momentos fiquei imaginando a atração da Disney que poderá ter origem no filme.
Porém (tudo tem um porém), pra quem leu Alice quando era criança e adorou, acho que a opção de modificar a história para que a personagem principal tenha 19 anos não foi tão acertada. Quero dizer, tem momentos em que o comportamento dela é tolinho demais pra quem tem 19 anos, mesmo que no início do século passado. Além disso, a atriz escolhida é de uma inexpressividade que chega a ser constrangedora, em alguns momentos. O diretor também fez uma opção fácil ao querer contar uma história que fizesse sentido. Quem leu os livros, tanto Alice no País das Maravilhas quanto no País do Espelho sabe que a narrativa é totalmente nonsense, e é isso que faz dela algo tão especial.
Como sempre, o melhor figurino é do Johnny Depp, e a melhor atuação também. Como você já deve ter percebido pela foto acima, meu personagem preferido é o Gato de Cheshire, simpaticíssimo, que, aliás, tem um papel muito mais importante no livro. Uma das falas dele é impagável, quando diz a Alice que, já que ela não sabe para onde quer ir, não importa o caminho que tome.
No geral, o filme é bom, mas eu não levaria meus sobrinhos de 10 anos pra assistir...
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